No Dia Internacional de Combate à Aids eu não poderia deixar de falar desta doença terrível que já levou milhares de vítimas no mundo todo. Só no Brasil, são 30 mil novos casos a cada ano! E o mais triste: a cada 3 novos casos, um é de um jovem, entre 16 e 24 anos de idade. A taxa anual subiu em 11% aqui, enquanto regride no primeiro mundo.

Como faço há alguns anos, semana passada, estive no lançamento oficial da Campanha de Mobilização Virtual Contra a Aids do Instituto Emílio Ribas, centro de excelência internacional no estudo e tratamento de doenças infecciosas, particularmente da Aids. Ajudamos a informar, divulgar, e levar a milhares de jovens a importância de cuidar e se proteger. Os meninos tem que usar o preservativo, mas as meninas também tem que exigir que os meninos usem camisinha. Muitas vezes por receio de chatear o menino ou por vergonha, elas não fazem isso. Converso sempre com o Dr. Jean Gorinchteyn, infectologista do Instituto, que trata e convive com pacientes portadores de HIV há muitos anos e não se cansa de alertar para essa preocupação das campanhas e o seu recado – que precisa ser incisivo aos jovens. O número de novas contaminações realmente assusta, mesmo apesar da distribuição gratuita de camisinhas e tanta informação disponível. Não se pode ter trégua, quando a doença cresce.

“Existe uma questão muito delicada da percepção deste jovem ou adolescente de hoje em relação aos avanços da medicina no tratamento da doença, acreditando que pelo fato de haver tratamento, possa haver cura, o que não é verdade. A Aids não tem cura! E o risco de infecção continua o mesmo para qualquer pessoa que mantenha relações sexuais, em qualquer idade, sem o uso de preservativos. Quando esses jovens mantem relações após o uso de álcool ou drogas, por mais que tenham a camisinha no bolso, se esquecem dela, ou não fazem o uso correto”, conta o Dr. Jean.
Por isso, as campanhas não podem parar e precisam falar cada vez mais “a linguagem desses jovens”, daí a mobilização para que elas repercutam nas redes sociais, através de seus ídolos, com uma mensagem clara, reforçada pelas hashtags #sejoganaprevencao #camisinhasempre e o laço vermelho que carateriza a luta contra a Aids.

“É preciso lembrar que a Aids continua sendo uma doença muito grave, transmitida única e exclusivamente através das secreções de uma pessoa infectada para uma pessoa sadia, quando ocorre o contato da pele com fluidos corporais (sangue, sêmen, secreção pré-seminal, secreção vaginal e leite materno de mãe contaminada). E o que se oferece hoje como tratamento é uma medicação bastante eficaz, mas que não pode ser interrompida até o final da vida e tem sim, efeitos colaterais”, alerta o Dr. Jean. Então se por um lado é preciso lutar contra o preconceito que estigmatiza até hoje os portadores da doença, que precisarão sempre, além do tratamento, apoio dos amigos, familiares e da aceitação da sociedade, é preciso combater da mesma forma o preconceito tolo de se comprar camisinhas nas farmácias e supermercados ou procurar por elas nos centros de distribuição gratuitos, porque é só assim que se impede a ocorrência de novos casos.
“Nós hoje temos mesmo este dilema com a necessidade de abrir os olhos da juventude para que ela saiba que pode ser um processo solitário e doloroso a descoberta da doença se não houver prevenção e por outro lado de confortar e acolher o paciente com Aids explicando que ele pode ter uma sobrevida, com qualidade, diante do tratamento levado à risca. O preconceito ainda existe sim e é uma doença por trás da doença. A família que apoia um parente que tem câncer ou diabetes, pode não ter a mesma reação sabendo tratar-se de Aids, o que leva o próprio paciente a sentir medo e esconder os sintomas. Ele sofre com a dificuldade de aceitar a situação e de lidar com o arrependimento profundo por não ter se precavido. Contra isso contamos com um belo suporte psicológico e multidisciplinar para fazê-lo entender e iniciar o tratamento o mais rápido possível, já contra o preconceito só um trabalho de sensibilização da sociedade e muita informação”, desabafa o infectologista.

Informar com precisão e sensibilidade
Informação foi exatamente o foco da jornalista Roseli Tardelli, quando criou há dez anos a Agência de Notícias da Aids, logo após a morte de seu irmão soropositivo. “Foi a maneira que encontrei de abraçar a causa dos portadores do vírus, que não tinham voz alguma e nem tinham notícias suficientes sobre tratamentos novos, a evolução das pesquisas e os seus direitos como cidadão”. Através da agência sabe-se tudo sobre as lutas e conquistas de pessoas e instituições envolvidas com o sonho da erradicação da doença, os cuidados com quem a adquiriu e as campanhas e movimentos voltados à prevenção.
Jefferson Cardoso, soropositivo há 13 anos encontrou um caminho semelhante, que começou em forma de depoimento anônimo e hoje é um site bem completo e bastante visualizado sobre a Aids e o HIV.O blog Viver com HIV recebe mais de 30 emails, por dia, de pessoas que se descobriram portadoras do vírus e buscam ajuda, informação, um ombro amigo e principalmente alguém que tenha passado por tudo isso e sobrevivido. Jeff revelou ao nosso portal que se sente muito bem em poder ajudar com dicas ou com palavras de apoio e revela: “Foi preciso eu quase morrer, para aceitar minha condição e levar o tratamento a sério! Até hoje não descobri como peguei o vírus, mas com toda a certeza foi por relações sexuais desprotegidas e descuidadas. Um conselho? Usem camisinha!!! O HIV não é mais uma sentença de morte, mas é muito ruim conviver com ele. Os efeitos dos remédios são muito fortes, você tem uma preocupação constante em manter sua imunidade alta e não ficar susceptível a doenças oportunistas, como a tuberculose, fora o preconceito e o tabu em torno da doença, que ainda é muito grande!!!”
“É dessa informação que precisamos”, pontua o Dr. Jean, “mensagens que sensibilizem e alcancem a população e principalmente os jovens. Não podemos baixar a guarda. Agradecemos a quem se dedica a divulgar a nossa bandeira de combate à doença. Nosso plano de vencer o vírus no mundo e erradicá-lo, é de mais 15 anos, mas para isso ser possível, só se a mensagem for espalhada, ouvida e finalmente absorvida por cada adulto e cada jovem que arrisca sua vida, por falta de um cuidado tão simples que se chama preservativo, porque nos preserva”.
Faça você a sua parte, tanto no divulgar, quanto deixar o preconceito de lado e, sobretudo previna- se sempre!!
bj pra vcs
Fabiana Scaranzi