Aids e as mulheres: porque os números aumentaram tanto

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Os apresentadores do evento: Fabiana Scaranzi e Dalton Vigh

Quando o assunto é Aids, os dados não mentem: sabia que de 2009 a 2015, o número de pessoas em tratamento no Sistema Único de Saúde aumentou 97%, passando de 231 mil para 455 mil pessoas? E que, comparando homens e mulheres infectados pela doença, em 1996 eram 15 casos em homens para 1 caso em mulher e, desde 2006, essa comparação passou a ser de 15 para 10? Alarmante, né?

Como o assunto é sério e atinge cada vez mais mulheres, especialmente na faixa-etária de 15 a 24 anos, fiz questão de apresentar o evento “Mobilização Virtual contra Aids”, no Hospital Público Emílio Ribas. Aliás, sabia que no Dia 1 de dezembro comemora-se o Dia Mundial de Luta contra a Aids? Daí a importância desse encontro e, principalmente: o alerta pela prevenção com o uso de preservativos.

O evento contou também com a presença de MC Gui, Raul Gil, Simoni e Wanessa Camargo
Fabiana Scaranzi fala da importância da divulgação da campanha para MC Gui, Raul Gil, Simoni e Wanessa Camargo

Com a chegada dos remédios antirretrovirais, muita gente baixou a guarda em relação à Aids e o número de jovens infectados (principalmente mulheres!) só cresceu. De acordo com o Ministério da Saúde, enquanto a doença no Brasil teve uma leve tendência de queda, o número de casos em jovens até os 25 anos aumentou 40% – e esse dado continua em ascensão.

O infectologista do Instituto Emílio Ribas, Jean Gorinchteyn, explica que esses dados não são por acaso. “A mulher se torna mais vulnerável por ter dificuldade de exigir do parceiro o uso de preservativos. Enquanto mulheres mais velhas, em um relacionamento estável, acreditam que esse pedido pode causar constrangimento e até mostrar falta de confiança no companheiro, adolescentes têm mais parceiros sexuais, se protegem menos e não tem noção do perigo da doença, além do possível uso de drogas com seringas compartilhadas”.

Pensando nisso, criei essa reportagem especial abaixo, com tudo o que você precisa saber sobre a Aids. Não deixe de ler cada linha!

Entendendo a doença
Sabia que HIV é a sigla em inglês para o vírus da imunodeficiência humana? Causador da Aids, ele ataca o sistema imunológico, responsável por defender o organismo de doenças.

Mas engana-se quem pensa que ser HIV positivo é o mesmo que ter Aids. Existem muitos soropositivos que vivem anos sem apresentar sintomas, nem desenvolver a doença, mas ainda assim podem transmitir o vírus por relações sexuais desprotegidas, compartilhando seringas contaminadas ou de mãe para o filho durante a gravidez e amamentação.

Como se pega a Aids
Dr. Jean Gorinchteyn explica que a transmissão do HIV pode ser feita através de três maneiras:

Tendo relações sexuais sem camisinha (seja de forma oral, vaginal ou anal)
Compartilhando agulhas e seringas contaminadas
Transmitindo o vírus da mãe para o bebê durante a gravidez, na hora do parto e/ou amamentação

Por isso, o especialista recomenda que sejam feitos testes de acordo com a vida sexual de cada pessoa. “Quem usa preservativos frequentemente pode realizar o exame uma vez por ano. Já quem tem vários parceiros sexuais, o indicado é a cada seis meses”.

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Reconhecendo os sintomas
A primeira fase da doença é chamada de infecção aguda e é nela em que ocorre a incubação do HIV – tempo de exposição ao vírus até o surgimento dos primeiros sinais da doença. Esse período varia de três a seis semanas e o organismo leva de 30 a 60 dias após a infecção para produzir anticorpos anti-HIV. Como seus sintomas são muito parecidos com o de uma gripe, como febre e mal-estar, muita gente acaba deixando os primeiros sinais de lado e é aí que mora o perigo.

A próxima fase ocorre com a forte interação entre as células de defesa e as constantes e rápidas mutações do vírus, mas que ainda não é forte o suficiente para enfraquecer o organismo e permitir o surgimento de novas doenças. Esse período pode durar anos e é chamado de assintomático.

Com o frequente ataque, o organismo fica cada vez mais fraco e vulnerável a infecções comuns, apresentando sinais significativos como febre, diarreia, suores noturnos e emagrecimento. E é por causa da baixa imunidade que o organismo permite o aparecimento de doenças que acabam enfraquecendo nossa saúde, como hepatites virais, tuberculose, pneumonia, toxoplasmose e alguns tipos de câncer.

Como é feito o diagnóstico da Aids
O diagnóstico da Aids é bem simples. “Basta fazer um dos testes existentes para diagnosticar a doença”, diz Dr. Jean Gorinchteyn. Eles são gratuitos e seu resultado é seguro e sigiloso. O exame é realizado a partir da coleta de sangue e, se der positivo, são exigidos exames médicos periódicos.

Aids e as formas de tratamento
Após o diagnóstico positivo, o acompanhamento médico é essencial, tanto para quem não apresenta sintomas e não toma remédios, quanto para quem já exibe algum sinal da doença e segue tratamento com medicamento antirretrovirais, fase que os médicos classificam como Aids. “Lembre-se que tomar os remédios de acordo com as indicações do seu médico é fundamental para ter sucesso no tratamento”, diz dr. Jean Gorinchteyn.

Além dos exames de rotina, como hemograma completo, fezes, urina e testes para hepatites B e C, tuberculose, sífilis e avaliação do funcionamento do fígado e rins, são pedidos também dois testes fundamentais: contagem dos linfócitos e carga viral, que vão indicar como está funcionando o sistema imunológico e se o vírus está se reproduzindo no organismo. Esses testes servem para monitorar a saúde de quem toma os antirretrovirais e até para decidir o momento mais adequado para iniciar ou modificar o tratamento.

Aids durante a gravidez
Sem qualquer tratamento, a taxa de transmissão do HIV de mão para filho durante a gravidez pode ser de 20%. A boa notícia é que se a grávida seguir todas as recomendações médicas, a possibilidade de infecção do bebê cai para níveis menores que 1%. A recomendações médicas se reduzem ao uso de remédios antirretrovirais combinados na grávida e no recém-nascido, o parto cesáreo e a não amamentação.

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É possível viver bem com Aids
Seguindo todas as recomendações médicas e tomando os medicamentos antirretrovirais conforme a prescrição é possível viver bem com a doença e a aumentar a sobrevida dos soropositivos.

Praticar exercícios físicos e ter uma alimentação equilibrada aumentam a qualidade de vida do paciente, lembrando que quem tem HIV também namora, beija na boca e tem relações sexuais, assim como todo mundo. Só preciso lembrar de usar preservativos… sempre!

A importância da boa alimentação
Manter um estilo de vida saudável ajuda a aumentar a resistência do soropositivo e assim continuar sua rotina sem grandes mudanças. Um cardápio variado, feito de três em três horas, com alimentos como carboidratos, proteínas e gorduras, além de frutas, legumes e verduras fortalecem o sistema de defesa, deixam a pessoa mais disposta e melhora os resultados do tratamento.

É direito do soropositivo:
Atendimento, tratamento e medicamentos gratuitos fornecidos pelo SUS.
Sigilo sobre às condições do paciente, respeitando sua intimidade e privacidade.
Queda da obrigatoriedade do exame de Aids no teste admissional ao começar um novo emprego.
– Permanecer no trabalho, mesmo após o diagnóstico positivo, sendo a demissão considerada discriminação e podendo gerar ação trabalhista e até indenização por danos morais caso haja constrangimento.
PIS/PASEP e FGTS, sem precisar ser demitido para retirar esses valores.
Benefício de prestação continuada pago pelo Governo Federal se o soropositivo estiver incapacitado de trabalhar e se sua renda familiar for menor que a de ¼ do salário mínimo.
Isenção do pagamento de imposto de renda quando receber a aposentadoria ou pensão.
Não sofrer discriminação por viver com a doença, podendo, inclusive, abrir um boletim de ocorrência caso isso aconteça.

Onde buscar ajuda
Nada de se isolar e achar que você tem que enfrentar esse desafio sozinha. Dá uma olhada onde encontrar o apoio para enfrentar a Aids com serenidade:
– Serviços de Atenção Especializada (SAE)
– Família e amigos
– Grupos de apoio com outros soropositivos e especialistas na área

Então, vamos divulgar a importância da prevenção e dizer “não” ao preconceito!

Bjs,
Fabi Scaranzi

*Fonte: www.aids.gov.br

Combate à AIDS: Não podemos baixar a guarda!

No Dia Internacional de Combate à Aids eu não poderia deixar de falar desta doença terrível que já levou milhares de vítimas no mundo todo. Só no Brasil, são 30 mil novos casos a cada ano! E o mais triste: a cada 3 novos casos, um é de um jovem, entre 16 e 24 anos de idade. A taxa anual subiu em 11% aqui, enquanto regride no primeiro mundo.

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Eu e a cantora Vanessa Camargo no Lançamento da Campanha

Como faço há alguns anos, semana passada, estive no lançamento oficial da Campanha de Mobilização Virtual Contra a Aids do Instituto Emílio Ribas, centro de excelência internacional no estudo e tratamento de doenças infecciosas, particularmente da Aids. Ajudamos a informar, divulgar, e levar a milhares de jovens a importância de cuidar e se proteger. Os meninos tem que usar o preservativo, mas as meninas também tem que exigir que os meninos usem camisinha. Muitas vezes por receio de chatear o menino ou por vergonha, elas não fazem isso. Converso sempre com o Dr. Jean Gorinchteyn, infectologista do Instituto, que trata e convive com pacientes portadores de HIV há muitos anos e não se cansa de alertar para essa preocupação das campanhas e o seu recado – que precisa ser incisivo aos jovens. O número de novas contaminações realmente assusta, mesmo apesar da distribuição gratuita de camisinhas e tanta informação disponível. Não se pode ter trégua, quando a doença cresce.

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1) Usar camisinha 2) Se ela furar, procurar o Instituto e fazer o teste

“Existe uma questão muito delicada da percepção deste jovem ou adolescente de hoje em relação aos avanços da medicina no tratamento da doença, acreditando que pelo fato de haver tratamento, possa haver cura, o que não é verdade. A Aids não tem cura! E o risco de infecção continua o mesmo para qualquer pessoa que mantenha relações sexuais, em qualquer idade, sem o uso de preservativos. Quando esses jovens mantem relações após o uso de álcool ou drogas, por mais que tenham a camisinha no bolso, se esquecem dela, ou não fazem o uso correto”, conta o Dr. Jean.
Por isso, as campanhas não podem parar e precisam falar cada vez mais “a linguagem desses jovens”, daí a mobilização para que elas repercutam nas redes sociais, através de seus ídolos, com uma mensagem clara, reforçada pelas hashtags #sejoganaprevencao #camisinhasempre e o laço vermelho que carateriza a luta contra a Aids.

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O ator Cauã Reymond aderiu à campanha no facebook

“É preciso lembrar que a Aids continua sendo uma doença muito grave, transmitida única e exclusivamente através das secreções de uma pessoa infectada para uma pessoa sadia, quando ocorre o contato da pele com fluidos corporais (sangue, sêmen, secreção pré-seminal, secreção vaginal e leite materno de mãe contaminada). E o que se oferece hoje como tratamento é uma medicação bastante eficaz, mas que não pode ser interrompida até o final da vida e tem sim, efeitos colaterais”, alerta o Dr. Jean. Então se por um lado é preciso lutar contra o preconceito que estigmatiza até hoje os portadores da doença, que precisarão sempre, além do tratamento, apoio dos amigos, familiares e da aceitação da sociedade, é preciso combater da mesma forma o preconceito tolo de se comprar camisinhas nas farmácias e supermercados ou procurar por elas nos centros de distribuição gratuitos, porque é só assim que se impede a ocorrência de novos casos.

“Nós hoje temos mesmo este dilema com a necessidade de abrir os olhos da juventude para que ela saiba que pode ser um processo solitário e doloroso a descoberta da doença se não houver prevenção e por outro lado de confortar e acolher o paciente com Aids explicando que ele pode ter uma sobrevida, com qualidade, diante do tratamento levado à risca. O preconceito ainda existe sim e é uma doença por trás da doença. A família que apoia um parente que tem câncer ou diabetes, pode não ter a mesma reação sabendo tratar-se de Aids, o que leva o próprio paciente a sentir medo e esconder os sintomas. Ele sofre com a dificuldade de aceitar a situação e de lidar com o arrependimento profundo por não ter se precavido. Contra isso contamos com um belo suporte psicológico e multidisciplinar para fazê-lo entender e iniciar o tratamento o mais rápido possível, já contra o preconceito só um trabalho de sensibilização da sociedade e muita informação”, desabafa o infectologista.

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Dez mil balões serão soltos ao meio-dia no vão do Emílio Ribas

Informar com precisão e sensibilidade
Informação foi exatamente o foco da jornalista Roseli Tardelli, quando criou há dez anos a Agência de Notícias da Aids, logo após a morte de seu irmão soropositivo. “Foi a maneira que encontrei de abraçar a causa dos portadores do vírus, que não tinham voz alguma e nem tinham notícias suficientes sobre tratamentos novos, a evolução das pesquisas e os seus direitos como cidadão”. Através da agência sabe-se tudo sobre as lutas e conquistas de pessoas e instituições envolvidas com o sonho da erradicação da doença, os cuidados com quem a adquiriu e as campanhas e movimentos voltados à prevenção.

Jefferson Cardoso, soropositivo há 13 anos encontrou um caminho semelhante, que começou em forma de depoimento anônimo e hoje é um site bem completo e bastante visualizado sobre a Aids e o HIV.O blog Viver com HIV recebe mais de 30 emails, por dia, de pessoas que se descobriram portadoras do vírus e buscam ajuda, informação, um ombro amigo e principalmente alguém que tenha passado por tudo isso e sobrevivido. Jeff revelou ao nosso portal que se sente muito bem em poder ajudar com dicas ou com palavras de apoio e revela: “Foi preciso eu quase morrer, para aceitar minha condição e levar o tratamento a sério! Até hoje não descobri como peguei o vírus, mas com toda a certeza foi por relações sexuais desprotegidas e descuidadas. Um conselho? Usem camisinha!!! O HIV não é mais uma sentença de morte, mas é muito ruim conviver com ele. Os efeitos dos remédios são muito fortes, você tem uma preocupação constante em manter sua imunidade alta e não ficar susceptível a doenças oportunistas, como a tuberculose, fora o preconceito e o tabu em torno da doença, que ainda é muito grande!!!”

“É dessa informação que precisamos”, pontua o Dr. Jean, “mensagens que sensibilizem e alcancem a população e principalmente os jovens. Não podemos baixar a guarda. Agradecemos a quem se dedica a divulgar a nossa bandeira de combate à doença. Nosso plano de vencer o vírus no mundo e erradicá-lo, é de mais 15 anos, mas para isso ser possível, só se a mensagem for espalhada, ouvida e finalmente absorvida por cada adulto e cada jovem que arrisca sua vida, por falta de um cuidado tão simples que se chama preservativo, porque nos preserva”.

Faça você a sua parte, tanto no divulgar, quanto deixar o preconceito de lado e, sobretudo previna- se sempre!!

bj pra vcs
Fabiana Scaranzi