Vergonha financeira: por que é tão difícil para as mulheres falarem sobre dinheiro

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(Imagem: iStock)

Lendo algumas pesquisas sobre a relação das mulheres com o dinheiro, descobri que até mesmo aquelas mais bem-sucedidas e ambiciosas se encolhem na hora de falar sobre finanças.

Não é à toa que nos últimos dois anos surgiram grandes iniciativas para encorajar as mulheres a tomarem frente de suas finanças e dominarem questões como investimentos, rendimentos, poupanças… A ideia é conversar com mulheres que ainda sentem vergonha de falar abertamente sobre dinheiro e fornecer ferramentas através de mentores e profissionais da área de economia para sanar dúvidas, dar dicas e acabar com a insegurança.

Quando o assunto é dinheiro, existem três grandes vilões que fazem as mulheres se sentirem acanhadas e desconfortáveis:

– Estereótipos de gênero: a falsa ilusão de que as mulheres não gostam de correr riscos ou não têm interesse em investir.

– A falta de uma estratégia financeira: entender importância do investimento, principalmente quando pesquisas já revelaram que mulheres tendem a viver mais, mas ainda assim ganham menos que os homens.

– Mudanças demográficas: estudos revelam que até 2026, 50% dos ativos financeiros estarão nas mãos das mulheres. Em 2030, esse número pode aumentar para 65%. Mas atualmente não existem recursos financeiros suficientes para nos ajudar a administrar essa riqueza.

Mas afinal, o que é essa tal vergonha financeira?
A professora e pesquisadora na Universidade de Houston, Brené Brown, define vergonha como o medo da desconexão –  esse sentimento de “eu não sou [insira aqui um adjetivo: boa, forte…] o suficiente” ou “eu não sou digna de ….”. Todas nós já pensamos alguma vez na vida que não somos inteligentes o suficiente, não ganhamos o suficiente ou não estamos fazendo o suficiente e, por isso, não mereço *algo*.

Brené Brown descobriu também que a vergonha muda de gênero para gênero. Segundo ela, “vergonha, para as mulheres, é uma rede de expectativas conflitantes e inatingíveis de quem devemos ser”, enquanto para os homens é o conceito de “não ser percebido como fraco”.

Quando o assunto é dinheiro, entretanto, nós mulheres nos identificamos com os dois lados. Sentimos vergonha por não fazermos tudo – aperfeiçoar a gestão da casa, da família, nossa carreira e nossas finanças. E mais: admitimos sermos mais vulneráveis e ignorantes quando o assunto é dinheiro do que o sexo masculino. Essa vulnerabilidade, na nossa cultura, ainda é vista como fraqueza, adicionando uma camada extra de vergonha na nossa autoestima.

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(Imagem: Shutterstock)

Vergonha financeira e seus gatilhos
A pesquisadora explicou ainda que a vergonha precisa de apenas três fatores para crescer:

– sigilo
– silencio
– julgamento

Nós não falamos sobre salários. Nós nos mantemos em silêncio durante uma discussão quando o assunto são hábitos financeiros. Guardamos nossas dívidas em segredo e constantemente nos baseamos nos julgamentos dos outros na hora de fazermos escolhas. “Dez reais num café? Jamais!” Ao acreditamos que não temos força de vontade para poupar ou não somos capazes de administrar nossas finanças, o sentimento de vergonha só aumenta, levando a sensação de impotência e baixa autoestima.

Como combater a vergonha financeira?
Para quebrar esse ciclo negativo, é preciso primeiro reconhecer o que estamos fazendo e o que estamos nos sentindo. Vergonha não é sinônimo de culpa. Enquanto a culpa está associada a comportamentos (“eu fiz algo ruim”), a vergonha está associada ao “eu” (“eu sou algo ruim”).

Quer um exemplo simples? Imagine que você fez uma prova e foi reprovada porque não estudou. Essa consequência é resultado de um comportamento ou falha de caráter?

Agora tente avaliar essa diferença no contexto do dinheiro. Se você não estudar sobre finanças e investimentos, o saldo negativo da sua conta bancária será uma consequência do seu comportamento e não um reflexo de você como pessoa. Se você tem dívidas no cartão de crédito porque exagerou nas compras, isso é um resultado do seu comportamento impulsivo e não uma afirmação de que você é uma pessoa ruim.

O que fazer então? Tenha empatia por si mesma. Entenda que existem questões financeiras que você ainda não aprendeu e que isso não é um problema. Finanças não são assuntos aprendidos na escola. Se você não se sente envergonhada por não saber jogar xadrez, por exemplo, por nunca ter sido ensinada, você também pode se livrar da culpa por não saber o suficiente sobre como investir ou onde aplicar seu dinheiro.

Ao criar essa empatia por si mesma, você vai abrir o caminho para o próximo passo: se permitir ser vulnerável. Tenha coragem de deixar que outras pessoas saibam que você não tem todas as respostas e que não tem medo de ser julgada ou criticada, pelo contrário, que está aberta a tirar dúvidas e aprender.

Converse com quem entende do assunto, não tenha medo de fazer uma pergunta “boba demais”, pesquise, marque uma reunião com o gerente do seu banco ou com seu contador, tire todas as dúvidas que surgir pelo caminho. Nada melhor para se livrar da tão temida vergonha financeira do que a coragem de se mostrar vulnerável.

E você, se sente insegura para falar sobre as suas finanças pessoais? Conte pra mim nos comentários.

Bjs,
Fabi Scaranzi