Demorou muito tempo para que a medicina levasse realmente a sério o que chamamos hoje de Depressão Pós-Parto e que, 50 anos atrás, poderia ser vista como histeria de mãe de primeira viagem, ou simplesmente “coisas de mulher”. Os sintomas não eram valorizados. Os transtornos de humor eram considerados traços peculiares da personalidade feminina. Sem diagnóstico, nem tratamento adequado, ou a doença se resolvia espontaneamente, ou tornava-se crônica.
Felizmente os olhos da medicina (talvez até pelo crescente número de médicas e pesquisadoras formadas) se abriram para este mal que atinge cerca de 60% das mulheres do baby blues à depressão, logo após terem dado à luz. Algumas de forma mais branda e outras com terríveis sensações. E nada precisa ter acontecido de errado no parto ou na gravidez para que ela ocorra. A criança nasceu perfeita, com boa saúde, o pai está feliz, os avós também. Nada saiu fora do planejado, e elas voltam com o bebezinho para casa, onde tudo foi preparado para recebê-lo, mas são invadidas por uma espécie de melancolia que não sabem explicar. Se esse sentimento for passageiro e desaparecer em alguns dias, não há motivo para preocupação, afinal o organismo passou por verdadeiras revoluções hormonais nos últimos tempos, que podem ter mexido com o sistema nervoso central. Mas se a sensação se prolongar é necessário buscar ajuda profissional. E logo.
O que é exatamente
A depressão pós-parto é uma doença médica, que acomete cerca de 10 a 15% das mulheres, e pode ter relação com as mudanças hormonais que acontecem no organismo da mulher durante e após a gravidez, as alterações no ciclo do sono e vigília e com o estresse decorrente da mudança de papéis, especialmente no caso dos primeiros filhos.
Sintomas
Os principais sintomas são: tristeza persistente ou irritabilidade; falta de interesse pelo bebê, pela família, amigos, atividades de lazer; falta de prazer com os cuidados com o bebê e atividades anteriormente prazerosas; preocupação excessiva, agitação, ansiedade; dificuldade para dormir, mesmo nos intervalos entre as mamadas e choros do bebê. Segundo a Dra. Márcia Britto de Macedo Soares, “podem ainda ocorrer aumento ou diminuição do apetite; dificuldade para se concentrar ou tomar decisões; sensação de cansaço excessivo, de peso no corpo; choro fácil, difícil de controlar; medo de não ser uma boa mãe, de que algum mal aconteça ao bebê, ou pensamentos de causar algum mal ao bebê ou a si mesma; pensamentos de morte ou suicídio, nos casos mais graves”.
Depressão X Baby Blues
Dra. Márcia alerta para a diferença entre Depressão Pós-parto e a leve Síndrome de melancolia natural às novas mães. “Muitas mulheres vivenciam, nos primeiros dias pós-parto flutuações do humor, choro fácil, insegurança, medo, preocupação excessiva, que passam por si só, após alguns dias. Esse quadro recebe o nome de “baby blues”, é freqüente, ocorre em até 85% das mulheres, e não precisa de tratamento. A depressão pós parto tende a acontecer um pouco mais tardiamente, entre a 4ª e a 6ª semana do pós-parto, e os sintomas são mais persistentes, intensos e interferem nitidamente com a qualidade de vida e com o funcionamento global da mulher”, explica e confirma que, nesse caso, irá necessitar de acompanhamento médico.

Sentir na pele não é fácil
É óbvio que passar por isso, sem entender o porquê, sobrecarrega a mulher com acréscimos de vergonha e sentimento de culpa, o que faz muitas delas sumirem por uns tempos dos amigos e do convívio familiar. Mas não precisa, nem deve ser assim, uma vez que muitas mulheres passam por isso, se tratam e superam a fase crítica muitas vezes com a ajuda de outras que já passaram pelo mesmo mal.
Recentemente, a atriz Hayden Panettiere, a Juliette, do seriado Nashville, revelou que está em tratamento para combater a depressão pós-parto, doença com a qual, curiosamente, sua personagem na série também sofreu. Talvez até por isso, Hayden tenha percebido mais facilmente o que estava ocorrendo, pelos sintomas e buscou ajuda psiquiátrica. Apesar de se manifestar publicamente sobre o tratamento, a atriz pediu respeito à fase que atravessa e uma trégua solidária aos paparazzi.

Sobre a doença, declarou:“Há um grande mal entendido. Há um monte de gente que pensa que não é real, que não é verdade, que é algo da nossa cabeça ou então que diz que são os hormônios. Mas, na verdade, é algo completamente incontrolável, doloroso e assustador. E as mulheres precisam de muito apoio para saber que não estão sozinhas e que tem cura”.
Exemplo mais próximo
Adionara Stopassoli Koba, estudante de administração, ficou grávida cedo e por um descuido. A gravidez, apesar de não desejada, ela até levou bem, mas quando chegou na hora do parto, algo estranho se passava com ela… “Mesmo após ouvir aquele choro que insistia em gritar em meus ouvidos anunciando sua chegada, em nenhum momento senti a tal emoção que todo mundo me falava ter sentido. Continuei ali na mesa de cirurgia com uma sensação estranha de que poderia morrer, estava muito confusa e por mais que eu tentasse os pensamentos ruins não me deixavam.”-desabafou no seu instagram.

O relato do encontro com o filho no hospital, no blog Amando em Tempo Integral, de uma sinceridade rasgada, chocou algumas leitoras: “Murilo chegou de macacão azul marinho com uma manta azul clarinha e estava dormindo…logo chegaram alguns amigos e ficaram encantados com o bebê…diziam que era lindo, tiravam fotos; estavam extasiados. Eu olhava pra ele mas, infelizmente era como uma coisa / pessoa qualquer…não fiquei feliz em vê-lo. O que estava acontecendo? Cadê o amor de mãe? Me disseram que seria a coisa mais maravilhosa do mundo #sóquenão?! Por mais que eu tentasse sentir alguma coisa por ele (era como uma obrigação sentir pois, todos estavam alegres e empolgados) não acontecia…eu estava inerte àquilo tudo e mesmo com a presença dele ali do meu lado “EU NÃO ME EMOCIONEI”.
Hoje ela se emociona e muito. Conseguiu com ajuda do marido, dos conselhos da mãe e muita força de vontade, reverter o processo e quando se deu conta, o amor brotou. Conseguiu passar pela depressão, sem medicação, o que já foi uma vitória e talvez sua terapia tenha sido exatamente desabafar no seu blog e encontrar tantas mães tão perdidas como ela, trocando experiências. O fato de ter relatado essa fase tão terrível que atravessou foi muito importante pra ela e para suas leitoras. Seus registros de superação inspiram outras mães que passam pelo mesmo mal e emocionam as que não passaram, mas entendem, talvez pela autenticidade das histórias divididas, desde a gravidez até agora- quando ela exibe orgulhosa o Murilo já com quase 3 anos e revela: ” quem precisava mesmo dele era eu e hoje eu posso afirmar que o amor de mãe é imensurável”.
A depressão pós-parto é um grito solitário de socorro
Dra. Márcia diz que é muito difícil para quem não passou por isso, ou estudou muito a respeito, entender os sintomas de rejeição da mãe para com o filho, mas tenta explicar como se dá: “Existem sentimentos às vezes ambivalentes, pois embora o nascimento de um filho seja um acontecimento que traz grande felicidade, para algumas mulheres, o sentimento de insegurança em relação ao novo papel, as incertezas em relação às mudanças na dinâmica da relação conjugal e no estilo de vida podem gerar conflitos. No caso de uma gestação não desejada, ou sem o apoio do parceiro, esses conflitos tendem a se acentuar. Além disso, as noites mal-dormidas, as mamadas, os cuidados com o bebê, as dificuldades na amamentação, a mudança no desejo sexual, podem gerar sentimentos contrários ao novo papel, e gerar culpa na mãe. Esses conflitos devem ser compreendidos pelas pessoas mais próximas, que devem apoiar a mãe, e jamais recriminá-la”.
O apoio da família é fundamental
A família deve participar do tratamento, pois seu apoio é fundamental. Contar com o apoio da família e de amigos é muito importante para aliviar sentimentos de culpa que podem surgir, e para fortalecer o sentimento de segurança. A família não deve minimizar ou recriminar os sentimentos da mulher, mas sim oferecer seu auxílio e amparo, tanto na compreensão dos sentimentos, como nos cuidados com o bebê. A mulher deprimida tende a cuidar menos do bebê, o que pode ter repercussões no desenvolvimento da criança.
O tratamento
A depressão pós-parto tem tratamento, e estão indicados o uso de medicamentos antidepressivos e a psicoterapia. A escolha do antidepressivo deve levar em conta o desejo de amamentar, para se avaliar qual a melhor opção para a mãe e para o bebê. Nesses casos, os medicamentos mais indicados pertencem à classe inibidores seletivos de recaptação de serotonina, mas a opção por um, ou outro antidepressivo, deve ser discutida, antes, entre o psiquiatra e o pediatra.
A prevenção
A mudança de papéis , especialmente no caso do nascimento do primeiro filho, pode acarretar uma sobrecarga emocional à mulher. Não há como evitar o primeiro episódio de depressão pós-parto. Podem desenvolver a doença mesmo mulheres sem antecedentes de depressão, que queriam engravidar e tiveram uma gestação sem complicações obstétricas e parto tranquilo. No entanto, é preciso ficar de olho naquelas que já manifestaram quadros depressivos anteriormente, no pós-parto, fora dele ou durante a gravidez, porque a possibilidade de repetir o episódio existe, é grande, e quanto antes o tratamento for instituído, melhor.
Dra. Márcia aconselha: – É importante ficar atenta aos sentimentos de insegurança, às dúvidas e questionamentos que possam surgir ao longo da gestação, conversar sobre isso com o médico ginecologista e com o obstetra, com o parceiro, familiares e amigos. E também observar alterações de humor que possam surgir durante a gestação, e quando indicado, procurar a uma avaliação de um médico psiquiatra e uma psicoterapia para trabalhar as inseguranças. E, sempre, buscar manter um estilo de vida saudável durante a gestação.
É preciso entender que essas mulheres não queriam passar por issso, queriam sim amar seus filhos desde o primeiro momento. Então a cabe a quem está em volta apoiá-las e quem já passou por isso compartilhar suas histórias para que outras mães não se apavorem e saibam como agir se a depressão chegar.
bj pra vcs
Fabi Scaranzi
Informativa, né? Bom para as pessoas saberem que nenhuma mãe sente isso porque quer. Elas sofrem muito. bj linda!