Alergia Alimentar: O que você precisa saber

Fabiana Scaranzi Por Fabiana Scaranzi5 min leitura23 visualizações

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Todos nós temos um ou outro alimento ao qual temos alguma intolerância. Muitas vezes sequer percebemos por se tratar de algo leve que logo o organismo se encarrega de corrigir sem que a gente tenha  grandes reações. Mas no caso das alergias, não é bem assim…
A alergia alimentar é bem mais que uma intolerância. Também chamada de alergia escondida ou hipersensibilidade, a alergia causada por alimentos tem vários níveis de comprometimento e pode se apresentar de duas formas: as alergias imediatas – que são aquelas que nos dão os sinais exatamente na hora em que se come determinado alimento e as alergias tardias – que não dão sinal imediatamente e por isso nem sempre ligamos o alimento ao sintoma.

Os alimentos são digeridos e absorvidos. Algumas moléculas podem se ligar a proteínas carregadoras ( transportadoras) e desencadear um reconhecimento pelo sistema imune que vai gerar uma resposta de tolerância ou hipersensibilidade. Isso depende de vários fatores, incluindo a genética, idade, frequência de utilização do alimento, etc…

Se você tem reações na pele, ou sente-se mal depois de se alimentar e isso é constante, deve procurar de imediato um alergologista e tentar detectar se você é alérgica e a quais substâncias. Para entender melhor a doença e suas manifestações, convidei a especialista Dra. Maria José Mendes para tirar as dúvidas mais frequentes sobre esse tipo de alergia.

Quais são as alergias alimentares mais comuns e quais os sintomas?
As alergias alimentares mais comuns na infância são ao leite de vaca e outros animais, trigo e ovos. Chegam a atingir 6,5% das crianças mas cerca de 70% regridem espontaneamente até 10-12 anos de idade. Podem se manifestar como dermatite atópica, rinite e asma, urticária , vômitos cólicas ou diarreia. Já no adulto as causas mais frequentes são amendoim e outras leguminosas, castanhas e crustáceos. Os sintomas mais frequentes são urticária, angioedema (edema de lábios, olhos e face) , dermatite atópica e mais raramente anafilaxia com choque anafilático ou edema de glote. Há manifestações mais incomuns como esofagite eosinofílica, gastrite eosinofílica e colites.

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Como saber se é alérgica ao leite, glúten ou alguma outra substância?
Para detectar essas alergias podem ser feitos testes cutâneos e exames de sangue. A história clínica é muito importante e podem também ser feitos testes de exclusão que é a retirada de um grupo de alimentos do cardápio, por um período, para observação.

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As alergias vem de nascença ou podem se manifestar em várias fases da vida?
A pessoa geralmente tem histórico familiar de alergias indicando um caráter hereditário. A alergia pode se desenvolver na infância ou na vida adulta. No adulto o comum é desenvolver alergia a algo que come intermitentemente, ao contrário do que se pensa. É bastante comum se ouvir do paciente que até então ele sempre havia comido camarão sem problemas e um belo dia teve reação!

Qual é a diferença de intolerância para alergia alimentar?
A intolerância alimentar se deve à deficiência de uma enzima para realizar a digestão. Pode ocorrer desde a infância ou ir se desenvolvendo aos poucos. A mais comum é a intolerância à lactose. A pessoa não produz ou vai com o tempo produzindo cada vez menos lactase e não consegue digerir podendo ter refluxo, gases e diarreia quando ingere leite e derivados. Já a alergia se deve à produção de um anticorpo ou a presença de uma célula que reconhece aquele alimento com estranho ao organismo e dá inicio à reação.

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Todas as alergias alimentares são crônicas? Existe tratamento para a cura?
Na infância, com a maturação só do sistema imunológico pode ocorrer a melhora espontânea da alergia. Já no adulto é improvável que ocorra cura. Há estudos com diversas abordagens terapêuticas mas ainda sem conclusões.

Uma alergia alimentar não observada pode levar à morte? 
Uma alergia alimentar pode na primeira manifestação causar um choque anafilático ou edema de glote e inclusive levar à morte, se o socorro não for imediato. Não existe relação entre quantidade ingerida e gravidade do quadro. Uma quantidade muito pequena pode levar a uma reação grave. Não há antídoto, nem remédios que se carreguem no bolso. A indicação é chamar o serviço de emergência.

As alergias alimentares são hereditárias?
A tendência a ser alérgico sim. O alérgeno (alimento ou inalante) pode não ser o mesmo.

Uma pessoa que tem outros tipos de alergia, está mais propensa a ter também alergia alimentar?
Sim. Mas não é obrigatório ocorrer. Pelo contrário, é um aumento de incidência muito pequeno.

Existe algum tratamento, medicação, vacina? Ou simplesmente corta-se a substância do cardápio?
O tratamento mais adequado é a exclusão, as medicações variam de caso a caso e são apenas para tratar os sintomas manifestados. Há sugestão de uso de alguns lactobacilos específicos em criança para ajudar a desenvolver tolerância. Mas ainda está em estudos para comprovação. Não existe indicação de imunoterapia (vacina) para alergia a alimentos e para os quadros de alergia por contato.

Sabendo que a alergia pode aparecer, na fase adulta, a um tipo de alimento que nunca provocou reação adversa, a gente deve ficar sempre atenta aos sinais, principalmente da pele e da má digestão. Pode ser muito triste ter que riscar da dieta alimentos que a gente gosta, mas é muito melhor abrir mão de um pequeno prazer do paladar, do que por em risco a saúde geral do seu corpo.

bj pra vcs
Fabi Scaranzi

*Imagens: Shutterstock

DRA. MARIA JOSÉ MENDES É MÉDICA FORMADA E ESPECIALIZADA EM IMUNOPATOLOGIA CLÍNICA E ALERGIA PELA FACULDADE DE MEDICINA DA USP.
PARA MAIORES ORIENTAÇÕES E INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES SOBRE ALERGIAS ALIMENTARES ESPECÍFICAS ACESSE O SITE DA SBAI (Sociedade Brasileira de Alergia e Imunopatologia).