
Se você chegou àquele ponto de que não tem mais uma gotinha de energia no seu reservatório, é melhor tirar cinco minutinhos do seu tempo e fazer uma avaliação sincera sobre o seu rendimento no trabalho. Você costumava ser uma pessoa competente e proativa, mas agora sente que trabalha no “piloto automático”? Ou chega em casa constantemente irritada, desanimada e sem vontade de fazer absolutamente nada? Esses são sintomas clássicos da Síndrome de Burnout: uma doença difícil de ser reconhecida, mas que, de acordo com a International Stress Management Association (Isma), já acomete 32% dos profissionais brasileiros. E mais: 92% dessas pessoas continuam trabalhando.
Um pouquinho de estresse no dia-a-dia é normal. Ele, inclusive, nos ajuda a tomar decisões no trabalho e na vida pessoal. “Em certa quantidade pode ser positivo e mesmo necessário”, avalia Marine Meyer Trinca, psicóloga da Medicina Preventiva do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE). Entretanto, se o comportamento for uma constante, principalmente quando o profissional acaba de chegar a empresa, é melhor ficar de olho.
A síndrome acomete, em especial, profissões em que há um impacto direto na vida de outras pessoas, como enfermeiros, psicólogos, professores, bombeiros, policiais, bancários, atendentes de telemarketing, assistentes sociais, advogados, arquitetos e jornalistas, sendo as mulheres as mais atingidas. O motivo? A ideia de que a mulher, além de realizar as funções exigidas pelo seu cargo, deve se responsabilizar também pelo serviço “doméstico” do lugar onde trabalha, como atender telefones, organizar festas e eventos, servir o cafezinho… Por isso, é bom ficar atenta às principais causas da doença, seus sintomas e principalmente: como tratar e preveni-los.
Principais causas
Segundo a psicóloga do Hospital Albert Einstein, são vários os motivos que podem levar a pessoa ao esgotamento físico e mental no trabalho. Preste atenção na lista abaixo:
– Perfeccionismo
– Meta profissional ainda não alcançada
– Competitividade
– Necessidade exagerada de controle
– Impaciência
– Dificuldade para delegar tarefas e trabalhar em grupo
– Incapacidade para tolerar frustrações

(Imagem: Shutterstock)
Problemas de relacionamento com clientes e chefes, a falta de cooperação entre os colegas de trabalho, desequilíbrio entre a vida profissional e a pessoal, e a perda de autonomia também são grandes causadores do nível máximo de estresse. Fortes candidatos são aqueles conhecidos como workaholics, que se identificam bastante com o trabalho, vivem para ele e têm níveis de exigência muito altos.
Como resultado, o rendimento cai, mesmo trabalhando bem mais do que um funcionário em estado físico e emocional normal. Além, ainda, de sofrer um risco maior de erros e acidentes de trabalho, devido a desatenção e imprudência. O convívio social fora do ambiente do trabalho também é prejudicado, já que a pessoa com a Síndrome de Burnout perde sua vontade e capacidade de interação, afastando-se cada vez mais dos amigos e parentes.
Conhece alguém que sofre do problema? Nada de mandar a pessoa reagir, ok? Isso, na verdade, só piora o problema, já que o doente passará a exigir mais de si mesmo, tentando produzir cada vez mais, intensificando sua carga de trabalho e, consequentemente, aumentando seu nível de cansaço e perdendo a eficiência e qualidade na tarefa que executa.
Sintomas
A Síndrome de Burnout pode ser medida através de três características que aparecem conforme o estágio da doença vai se agravando.
Nível 1: Exaustão! De acordo com o Isma, quem sofre com a Síndrome de Burnout se sente totalmente sem energia e sem recursos físicos e emocionais para reagir. Há também a sensação de fraqueza, dores musculares e de cabeça, além de náuseas, queda de cabelo, distúrbio do sono, alterações de humor, falta de apetite, baixa imunidade, alergia e perda de libido.
E os sintomas vão além dos físicos. Sentimentos de desesperança, solidão, impaciência, raiva e depressão também estão presentes. Algumas pessoas apresentam queixas, inclusive, de raciocínio lento, baixa de autoestima e memória alterada.
Nível 2: Distanciamento! Ligada a traços emocionais, o profissional que sofre com esgotamento no trabalho passa a ter um contato frio e superficial com seus companheiros de equipe, além de se distanciar afetivamente de parentes e amigos, assumindo uma postura negativista, ranzinza e de difícil interação.
Nível 3: Perda na produtividade! Seu nível de rendimento cai significativamente, fazendo com que o profissional passe a ver seu trabalho como mal feito e sem ser digno de reconhecimento. A sensação de ser incapaz de realizar com êxito uma tarefa pode resultar, inclusive, a quadros de depressão. Não demora para que a frustração dê espaço a agressividade, fazendo o afetado pela síndrome ter constantes ataques de ira, aumentando as possibilidades de doenças autoimunes, crises do pânico, depressão, ansiedade, diabetes e taquicardias.
Tratamento
A Organização Mundial de Saúde (OMS), que antes reconhecia a condição como uma doença ocupacional, decidiu incluir a Síndrome de Burnout na próxima edição da Classificação Internacional de Doenças, em 2022. Na lista, que inclui doenças e outras condições de saúde, a Síndrome de Burnout será classificada como um “fenômeno” ligado ao trabalho que afeta a saúde. Ela ainda estará presente no capítulo de “problemas associados” ao emprego ou ao desemprego e será descrita como “uma síndrome resultante de um estresse crônico no trabalho que não foi administrado com êxito”.
Na busca pelo tratamento mais eficaz, o primeiro passo é o afastamento temporário do profissional. Em seguida, deve-se fazer um exame minucioso e analisar se os problemas enfrentados estão de fato relacionados ao ambiente de trabalho ou à profissão. O ideal é procurar um especialista para fazer exames psicológicos. Busque avaliar se é o ambiente de trabalho o principal causador do estresse ou se são as atitudes da pessoa o estopim deste esgotamento.
Mesmo que um antidepressivo alivie o quadro, é fundamental desacelerar o ritmo de trabalho. Além da diminuição da carga horária, exercícios como meditação e técnicas de relaxamento podem ajudar a combater este tipo de estresse.
É fundamental, também, manter o foco em três pontos fundamentais para o tratamento psicoterápico: a relação do profissional com a profissão, o ambiente de trabalho e o tratamento de cada sintoma individualmente, como por exemplo sua dificuldade de concentração. Somente depois de ter trabalhado cada um desses três pontos, é que profissional está liberado para voltar ao trabalho, mas de forma gradual, em que as demandas cresçam aos poucos.
Prevenção
– Tire o trabalho como sua prioridade número 1 de vida
– Procure descobrir atividades extracurriculares que te deem prazer
– Faça mais passeios culturais. Aqui, vale desde uma ida ao cinema, até museus e exposições
– Leia livros e revistas sobre temas sem nenhuma relação com a área em que atua
– Delegue tarefas. Não tenha medo de pedir ajuda a parentes e amigos quando se sentir sobrecarregada
– Faça exercícios físicos regulamente. Eles ativam a circulação e ajudam a extravasar o estresse
– Alimente-se bem e imponha limites na quantidade de cafeína que ingere diariamente
– Estabeleça um horário fixo para dormir e acordar, e nunca abra exceções
– Avalie se o que te atraiu nesse emprego ainda te satisfaz ou se já não é hora de pensar em um plano B
– Procure fazer uma lista de prós e contras da função e empresa em que atua hoje, buscando sempre encontrar valores positivos
– Conheça pessoas. Ao fazer o famoso networking, você abre novas portas e, quem sabe, encontra uma oportunidade de trabalho menos exaustivo
– Preste atenção aos sinais do seu corpo. Se você perceber que constantemente fica doente, e apresenta sintomas desde anemia até gripes, baixa imunidade e distúrbios da tireoide, pode ser o momento de desacelerar o ritmo e focar em uma tarefa de cada vez. Será que não é o caso de programar as tão sonhadas férias?
Bjs,
Fabi Scaranzi
*Imagens: Shutterstock