Síndrome de Burnout! Saiba como se proteger deste mal

Fabiana Scaranzi Por Fabiana Scaranzi6 min leitura46 visualizações

stress

Se você chegou àquele ponto de que não tem mais uma gotinha de energia no seu reservatório, é melhor tirar cinco minutinhos do seu tempo e fazer uma avaliação sincera sobre o seu rendimento no trabalho. Você costumava ser uma pessoa competente e proativa, mas agora sente que trabalha no “piloto automático”? Ou chega em casa constantemente irritada, desanimada e sem vontade de fazer absolutamente nada? Esses são sintomas clássicos da Síndrome de Burnout: uma doença difícil de ser reconhecida, mas que, de acordo com a International Stress Management Association (Isma), já acomete 32% dos profissionais brasileiros. E mais: 92% dessas pessoas continuam trabalhando.

Um pouquinho de estresse no dia-a-dia é normal. Ele, inclusive, nos ajuda a tomar decisões no trabalho e na vida pessoal. “Em certa quantidade pode ser positivo e mesmo necessário”, avalia Marine Meyer Trinca, psicóloga da Medicina Preventiva do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE). Entretanto, se o comportamento for uma constante, principalmente quando o profissional acaba de chegar a empresa, é melhor ficar de olho.

A síndrome acomete, em especial, profissões em que há um impacto direto na vida de outras pessoas, como enfermeiros, psicólogos, professores, bombeiros, policiais, bancários, atendentes de telemarketing, assistentes sociais, advogados, arquitetos e jornalistas, sendo as mulheres as mais atingidas. O motivo? A ideia de que a mulher, além de realizar as funções exigidas pelo seu cargo, deve se responsabilizar também pelo serviço “doméstico” do lugar onde trabalha, como atender telefones, organizar festas e eventos, servir o cafezinho… Por isso, é bom ficar atenta às principais causas da doença, seus sintomas e principalmente: como tratar e preveni-los.

Principais causas
Segundo a psicóloga do Hospital Albert Einstein, são vários os motivos que podem levar a pessoa ao esgotamento físico e mental no trabalho. Preste atenção na lista abaixo:

– Perfeccionismo
– Meta profissional ainda não alcançada
– Competitividade
– Necessidade exagerada de controle
– Impaciência
– Dificuldade para delegar tarefas e trabalhar em grupo
– Incapacidade para tolerar frustrações

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(Imagem: Shutterstock)

Problemas de relacionamento com clientes e chefes, a falta de cooperação entre os colegas de trabalho, desequilíbrio entre a vida profissional e a pessoal, e a perda de autonomia também são grandes causadores do nível máximo de estresse. Fortes candidatos são aqueles conhecidos como workaholics, que se identificam bastante com o trabalho, vivem para ele e têm níveis de exigência muito altos.

Como resultado, o rendimento cai, mesmo trabalhando bem mais do que um funcionário em estado físico e emocional normal. Além, ainda, de sofrer um risco maior de erros e acidentes de trabalho, devido a desatenção e imprudência. O convívio social fora do ambiente do trabalho também é prejudicado, já que a pessoa com a Síndrome de Burnout perde sua vontade e capacidade de interação, afastando-se cada vez mais dos amigos e parentes.

Conhece alguém que sofre do problema? Nada de mandar a pessoa reagir, ok? Isso, na verdade, só piora o problema, já que o doente passará a exigir mais de si mesmo, tentando produzir cada vez mais, intensificando sua carga de trabalho e, consequentemente, aumentando seu nível de cansaço e perdendo a eficiência e qualidade na tarefa que executa.

Sintomas
A Síndrome de Burnout pode ser medida através de três características que aparecem conforme o estágio da doença vai se agravando.

Nível 1: Exaustão! De acordo com o Isma, quem sofre com a Síndrome de Burnout se sente totalmente sem energia e sem recursos físicos e emocionais para reagir. Há também a sensação de fraqueza, dores musculares e de cabeça, além de náuseas, queda de cabelo, distúrbio do sono, alterações de humor, falta de apetite, baixa imunidade, alergia e perda de libido.

E os sintomas vão além dos físicos. Sentimentos de desesperança, solidão, impaciência, raiva e depressão também estão presentes. Algumas pessoas apresentam queixas, inclusive, de raciocínio lento, baixa de autoestima e memória alterada.

Nível 2: Distanciamento! Ligada a traços emocionais, o profissional que sofre com esgotamento no trabalho passa a ter um contato frio e superficial com seus companheiros de equipe, além de se distanciar afetivamente de parentes e amigos, assumindo uma postura negativista, ranzinza e de difícil interação.

Nível 3: Perda na produtividade! Seu nível de rendimento cai significativamente, fazendo com que o profissional passe a ver seu trabalho como mal feito e sem ser digno de reconhecimento. A sensação de ser incapaz de realizar com êxito uma tarefa pode resultar, inclusive, a quadros de depressão. Não demora para que a frustração dê espaço a agressividade, fazendo o afetado pela síndrome ter constantes ataques de ira, aumentando as possibilidades de doenças autoimunes, crises do pânico, depressão, ansiedade, diabetes e taquicardias.

Tratamento
A Organização Mundial de Saúde (OMS), que antes reconhecia a condição como uma doença ocupacional, decidiu incluir a Síndrome de Burnout na próxima edição da Classificação Internacional de Doenças, em 2022. Na lista, que inclui doenças e outras condições de saúde, a Síndrome de Burnout será classificada como um “fenômeno” ligado ao trabalho que afeta a saúde. Ela ainda estará presente no capítulo de “problemas associados” ao emprego ou ao desemprego e será descrita como “uma síndrome resultante de um estresse crônico no trabalho que não foi administrado com êxito”.

Na busca pelo tratamento mais eficaz, o primeiro passo é o afastamento temporário do profissional. Em seguida, deve-se fazer um exame minucioso e analisar se os problemas enfrentados estão de fato relacionados ao ambiente de trabalho ou à profissão. O ideal é procurar um especialista para fazer exames psicológicos. Busque avaliar se é o ambiente de trabalho o principal causador do estresse ou se são as atitudes da pessoa o estopim deste esgotamento.

Mesmo que um antidepressivo alivie o quadro, é fundamental desacelerar o ritmo de trabalho. Além da diminuição da carga horária, exercícios como meditação e técnicas de relaxamento podem ajudar a combater este tipo de estresse.

É fundamental, também, manter o foco em três pontos fundamentais para o tratamento psicoterápico: a relação do profissional com a profissão, o ambiente de trabalho e o tratamento de cada sintoma individualmente, como por exemplo sua dificuldade de concentração. Somente depois de ter trabalhado cada um desses três pontos, é que profissional está liberado para voltar ao trabalho, mas de forma gradual, em que as demandas cresçam aos poucos.

Prevenção
– Tire o trabalho como sua prioridade número 1 de vida
– Procure descobrir atividades extracurriculares que te deem prazer
– Faça mais passeios culturais. Aqui, vale desde uma ida ao cinema, até museus e exposições
– Leia livros e revistas sobre temas sem nenhuma relação com a área em que atua
– Delegue tarefas. Não tenha medo de pedir ajuda a parentes e amigos quando se sentir sobrecarregada
– Faça exercícios físicos regulamente. Eles ativam a circulação e ajudam a extravasar o estresse
– Alimente-se bem e imponha limites na quantidade de cafeína que ingere diariamente
– Estabeleça um horário fixo para dormir e acordar, e nunca abra exceções
– Avalie se o que te atraiu nesse emprego ainda te satisfaz ou se já não é hora de pensar em um plano B
– Procure fazer uma lista de prós e contras da função e empresa em que atua hoje, buscando sempre encontrar valores positivos
– Conheça pessoas. Ao fazer o famoso networking, você abre novas portas e, quem sabe, encontra uma oportunidade de trabalho menos exaustivo
– Preste atenção aos sinais do seu corpo. Se você perceber que constantemente fica doente, e apresenta sintomas desde anemia até gripes, baixa imunidade e distúrbios da tireoide, pode ser o momento de desacelerar o ritmo e focar em uma tarefa de cada vez. Será que não é o caso de programar as tão sonhadas férias?

Bjs,
Fabi Scaranzi

*Imagens: Shutterstock