Em setembro, duas notícias abalaram o mundo da música: o cancelamento da apresentação da cantora americana Lady Gaga no Rock in Rio por conta da fibromialgia – doença que gera dores insuportáveis por todo o corpo e está frequentemente associada à fadiga, fraqueza, sono, dificuldade de concentração, ansiedade e depressão – e o post emocionante da cantora Selena Gomez no Instagram, contando que havia passado por uma cirurgia e recebido um rim transplantado de sua melhor amiga. O que pouca gente sabe é que esses dois quadros, aparentemente bem diferentes, são consequências de uma mesma doença: o Lúpus!
A doença, pra muita gente ainda é desconhecida e gera algumas dúvidas – por isso a importância desse post. Abaixo, explico o que é o Lúpus, seus sintomas, tratamentos e diagnóstico. Dá uma olhada!
O que é o Lúpus?
Segundo a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), Lúpus nada mais é do que uma doença inflamatória crônica de origem autoimune, cujos sintomas podem surgir em diversos órgãos de forma lenta e progressiva (em meses) ou mais rapidamente (em semanas) e variam com fases de atividade e de remissão. Existem, entretanto, dois tipos de Lúpus: o cutâneo, que se manifesta apenas com manchas na pele (geralmente avermelhadas) principalmente nas áreas que ficam expostas à luz solar (rosto, orelhas, colo (“V” do decote) e nos braços) e o sistêmico, no qual um ou mais órgãos internos são prejudicados, como é o caso de Selena Gomez e Lady Gaga.
De olho nos sintomas
Por ser uma doença do sistema imunológico – que é responsável pela produção de anticorpos e organização dos mecanismos de inflamação em todos os órgãos, a pessoa com Lúpus pode ter diferentes tipos de sintomas em vários locais do corpo.
Dos sintomas mais comuns:
– Febre
– Perda de peso
– Perda de apetite
– Queda de cabelo
– Fraqueza
– Desânimo
Dos sintomas específicos de cada órgão:
– Dores nas juntas principalmente na região das mãos, punhos, joelhos e pés (fibromialgia)
– Manchas na pele
– Inflamação da pleura (membrana que recobre o pulmão), causando dor ao respirar, tosse seca e falta de ar
– Pericardite (inflamação da membrana que reveste o coração), causando dor no peito, palpitação e falta de ar
– Hipertensão
– Problemas/falhas do funcionamento dos rins, acompanhados de pressão alta, inchaço nas pernas, urina espumosa, ou diminuição da quantidade de urina. Pode-se haver necessidade de diálise ou até transplante.
– Anemia
– Aumento do sangramento menstrual
– Surgimento de hematomas
– Sangramento excessivo das gengivas
Vale lembrar que esses sintomas podem surgir isoladamente, ou em conjunto e podem ocorrer ao mesmo tempo ou de forma sequencial. Cada caso é um caso!
Quem tem Lúpus?
Sabia que as mulheres são as mais acometidas com a doença? Apesar dos números não serem exatos, estima-se que cerca de 65.000 pessoas sofram de Lúpus e que uma a cada 1.700 mulheres tenham com a doença. Alarmante, né? “Porém, o Lúpus não tem um perfil exato para se manifestar. Ele pode ocorrer em pessoas de qualquer idade, raça e sexo, sendo a grande maioria pessoas entre 20 e 45 anos”, informam os reumatologistas da SBR.

Lúpus e as principais causas
Apesar da causa não ser totalmente conhecida, fatores genéticos, hormonais e ambientais são os principais responsáveis pelo desenvolvimento do Lúpus. Pessoas que já nascem com predisposição genética para desenvolver a doença, em algum momento, após uma interação com fatores ambientais (irradiação solar ou infecções virais, por exemplo) passam a apresentar uma ou mais alterações imunológicas citadas acima. “A principal delas é o desequilíbrio na produção de anticorpos que reagem com proteínas do próprio organismo e causam inflamação em diversos órgãos como na pele, pulmões e rins. Dessa forma, é correto dizer que o tipo de sintoma que a pessoa desenvolve depende do tipo de auto anticorpo que ela possui e, de como o desenvolvimento de cada anticorpo se relaciona às características genéticas de cada indivíduo”, explica o reumatologista de São Paulo, Evandro Pereira. Não é à toa que cada tratamento é feito de maneira específica e muito pessoal, dependendo do quadro de cada paciente.
Como é feito o diagnóstico
A princípio, o diagnóstico do Lúpus é feito através do reconhecimento pelo médico de um ou mais sintomas, além de alterações presentes em exames de sangue e urina. Vale lembrar que não existe um exame que seja 100% específico para diagnosticar o Lúpus, porém um exame chamado FAN (fator ou anticorpo antinuclear), se apresentar números elevados em uma pessoa com sinais ou sintomas característicos da doença, permite o diagnóstico com mais certeza.
Tipos de tratamento
O reumatologista Evandro Pereira explica que o tratamento do Lúpus depende, principalmente, do tipo de manifestação que ela apresenta, por isso que cada plano de ação é individualizado. “Pode ser que uma pessoa com Lúpus precise de um, dois ou mais medicamentos em uma fase (ativa), e poucos ou nenhum medicamento em outras”, explica.
Entretanto, o tratamento sempre inclui remédios para regular as alterações imunológicas, além de medicamentos gerais para regular alterações consequentes da inflamação causada pelo Lúpus, como febre, dores, inchaços… Sintomas mais leves podem ser tratados com anti-inflamatórios, analgésicos e/ou doses baixas de corticoides e sempre (sempre mesmo!) deve-se aplicar protetor solar em todas as áreas do corpo expostas à claridade (e reaplicar a cada três horas).
O especialista explica ainda que, no caso de problemas nos rins, pulmões, sistema nervoso ou vasculite, é necessário o emprego de imunossupressores em doses que vão variar de acordo com o quadro do paciente.
Outros cuidados importantes
A Sociedade Brasileira de Reumatologia listou ainda uma lista de cuidados fundamentais que quem sofre com Lúpus deve tomar diariamente. Espia só!
– Alimentação balanceada
– Repouso adequado
– Evitar situações de estresse
– Atenção rigorosa a higiene para evitar o risco de infecções)
– Evitar alimentos ricos em gorduras e bebidas alcoólicas em grande quantidade
– Evitar ou suspender o uso de anticoncepcional com estrogênio
– Não fumar
– Passar protetor solar todos os dias e evitar luz direta do sol em contato com a pele (os raios UV causam lesões e provocam o agravamento da inflamação em órgãos internos, como os rins)
– Praticar atividade física regular, de preferência a aeróbica para controlar a pressão e a glicose no sangue, além de melhorar a qualidade dos ossos, melhorando o sistema imunológico e prevenindo a osteoporose
Pra terminar, tenha em mente que quem sofre de Lúpus precisa de acompanhamento prolongados, mas isso não significa que a doença vai estar sempre causando sintomas ou impedindo uma vida normal. “A evolução do Lúpus se caracteriza por períodos de maior e menor atividade, com quantidade maior ou menor de sintomas”, explica Evandro. Por isso, você não só pode, como deve tentar seguir sua rotina como sempre fez. O uso regular dos medicamentos e os cuidados citados acima vão auxiliar na manutenção da doença e mantê-la sob controle.
Muitos desses cuidados (como protetor solar, alimentação saudável, fim do tabagismo) devem ser levados para a vida toda. Fazer exames e consultas periódicas é recomendado. E qualquer dúvida, ou alteração no seu quadro de saúde deve ser sempre comunicada ao seu médico.
Bjs,
Fabi Scaranzi